[RP Pública] It's the end of the world as we know it

Estavam caindo pelo buraco escuro do Coelho. A queda não parecia ter um fundo, enquanto os dois iam descendo pelo infinito. Foxy estava bem de boa, tomando uma xícara de chá, sentada no ar, observando John Evans cair também há alguns metros de distância. A cigana bocejou e olhou no relógio. - Realmente, estamos atrasados. - Estava meio irritada com aquela pataquada toda de transferência dimensional, tava ficando chato. Até que os dois caíram em algo macio, escuro.

As luzes foram clareando e eles começaram a escutar vários sons. O cheiro era o mais forte de tudo: Peixe e sal. Tinham caído em algumas redes e cordas, atrás de grandes barris. Estavam claramente em um porto. - Aaaai, John! Você tá em cima do meu braço! - Ela resmungou e se debateu, dando risada. - Shhhh, olha o barulho... - Foi sussurrando, sendo que ela mesma é que estava falando alto antes. Sabe como é, cigano não bate muito bem da cabeça. Ela se ajeitou, ajoelhou nas cordas e espiou por cima dos barris. Caaaaaara, era muito louco! As mulheres andando de vestidões longos e sombrinhas de pano, os homens carregando caixas e fedendo a peixe, calças largas de tecido velho e coletes antigos. As construções eram muito simples, muita madeira, pouco concreto. - Acho que a gente caiu em 1700... -

- Você tirou as palavras de dentro da minha cartola... - Disse a maluquinha, querendo dizer boca. Mas tudo bem, você entendeu e é isso que importa. Seguindo o bonde: Foxy aceitou a ajuda e deu uma boa olhada ao redor, os dois ainda meio que escondidos atrás da pilha de barris. Realmente, se alguém visse Foxy naquela roupa cigana, ela seria queimada viva na doca como uma bruxa. O que era bem injusto, já que ela era cigana, ela queria pelo menos queimar como cigana. Mas enfim, sem mais brisas, olhou para o tal do beco e sorriu, dando um tapinha camarada no ombro do amigo. - E eu aposto que consigo atrair qualquer um até lá. Eu te meti em 1700 né? Que que é um beco no porto perto disso? Hehehe - E deu uma piscadela marota, dando risada. - Vai nessa, me espera lá, vou escolher dois corpos parecidos com os nossos... - E então Foxy estalou os dedos, suas roupas se transformando em um vestido bufante e cafona de época, igual ao que a mulherada parecia usar pelo porto. - A ilusão é uma bênção - Disse ela, mas o ditado certo era "ignorância". Bom, foda-se, ela então seguiu em direção ao cais, deixando John para trás.

Lá se foi ela, toda rebolosa, pelo cais. Toda a sua postura era muito diferente das mulheres no geral daquela época, seu cabelos ruivos cheios e soltos pelas costas, destoando com o vestido de época. E é exatamente por isso, amiguinhos, que Foxy conseguiu achar dois machos babões bem rápido. A cigana maluca parou ao lado dos marujos: Um era alto e forte, o outro era mirrado e baixinho. Foxy deu uma medida de olho nas roupas e um sorriso oportunista para os rapazes. - Minha nossa, são tão impressionantes! Nunca tinha visto um marujo, sabe? Sou do interior... - Fingiu-se de boa moça impressionada e então se afastou, sabendo muito bem que eles encaravam sua bunda. Contou até 5 sozinha e entrou no beco. A roupa de época sumiu imediatamente, as vestes de hippie voltando ao corpo de Foxy. Ela percebeu o silêncio e olhou direto para a pilha de barris, onde John devia estar, rindo baixo. O menino era ligeiro! Virou para encarar o caminho que tinha vindo e lá estavam os dois, chamando a mulher de longe, xingando suas roupas estranhas e acusando ela de bruxa. Porra, já disse que ela era uma cigana! Mas enfim... Os dois traziam suas facas na mão. - Meninos, meninos, por favor! Vocês não fariam mal à uma moça bobinha, não é? - Se fingiu de chorosa, dando passos para trás, levando os dois palermas direto pra boca do lobo.

Ela teve que tapar os ouvidos quando John sacou a varinha e explodiu os dois trouxas para a parede, vendo eles caírem que nem dois sacos de batata no chão. Olhou para os dois lados do beco só pra confirmar que ninguém ia aparecer e sorriu quando viu que tudo continuava na santa paz. - Olha, tenho que dar seu crédito de bruxo, os truques são muito úteis. Eu não ia conseguir manter minha ilusão por muito tempo no mar, esses dois babacas vão ter que servir. - E já foi se apressando para os corpos, estava doida pra apalpar a vontade, como uma raposa invadindo o galinheiro. Mal de ciganos, essa coisa de enfiar a mão no bolso de alguém inconsciente, sabe?

- Calma Johny, temos um longo caminho pela frente e muitas apostas esperando pela gente. Você ainda vai perder. - E sorriu, dando uma piscadela brincalhona e empurrando ele com o braço. Depois ela riu alto, os olhinhos brilhando em várias cores por alguns segundos. - Eu realmente gosto do jeito que você pensa. Acho que você tem força suficiente pra enfiar a cabeça de um dentro da bunda do outro... - E parou, rindo logo depois. - Brincadeira, acho que prender os braços deles de costas um pro outro já vai dar um belo show quando tentarem sair do beco. - Ela foi apalpando bolsos, coletes, roubando itens com a perícia de... Uma cigana, na verdade. E enfiava tudo na bolsinha de tecido com franjas logo depois, que tinha um tamanho muito desproporcional pro tanto de coisa que ela estava entuchando. Obviamente era um item bruxo roubado.

Ajudou o menino a arrastar os corpos e foi só aí que ela percebeu o futum - Argh! Fedendo desse jeito parece que estão mortos, isso sim. - Ela largou bruscamente o corpo no chão assim que terminou de arrastar, desamassando a roupa, pra fazer o cheiro passar. - Deixa eu ver se eu tenho alguma coisa aqui... - E fuçou na bolsa, enfiando até o cotovelo dentro, uma cena meio bizarra já que a bolsa tinha menos de 30 centímetros. - Aha! - Tirou um frasco verde e mostrou pro menino. Abriu a tampa e colocou algumas gotas do que parecia um creme na mão. Passou o creme do rosto e nas mãos, e depois jogou um pouco nos marujos. Só depois ela ofereceu para John. - É uma receita de família, vai anular o cheiro deles pra gente e vamos conseguir sobreviver nessa catinga. Vai, para de me olhar assim, não é venenoso e nem dá barato, seu sem graça! - E mostrou a língua, voltando para os marujos. Sem nenhum cuidado, foi tirando a roupa do magrelo, que tinha claramente quase o seu tipo físico. Depois, ela mesma começou a se despir, sem pudor nenhum. Ah, os hippies...

Era curioso. A maioria dos caras costumavam se incomodar com nudez. Nossa, que tabu, pele a vista! Mas John não. Foxy deu de ombros enquanto despia o marujo magricela sem nenhum prazer. Achava que o fato do cara ser lobisomen podia ser um baita agravante, ele devia ficar pelado sem querer (e ver outros lobisomens no mesmo estado) o tempo todo. A coisa da transformação devia ser um saco. Quando estava pronta, colocou os cabelos pra trás, botou as mãos na cintura e sorriu, guardando as suas roupas comuns e as de John na bolsinha de tecido, que tratou de esconder dentro de um dos vários bolsos de sua calça grosseira e velha. - Moda do verão de 1.700 e bolinha... Você ficou um chuchu, Johny. - Enquanto ele amarrava os mongolóides, Foxy fez alguns últimos ajustes na roupa, arrumando as botas nos pés e amarrando uma bandana na cabeça, prendendo os cabelos. Ia ter que gastar um tempo de costura no navio porque aquela droga era muito desconfortável e pinicava.

Quando o amigo fez a reverência, Foxy ergueu as laterais da calça como se fosse uma dama levantando o vestido, e passou toda pomposa dando pulinhos. Um chapéu jogado no chão tinha passado desapercebido na hora que se vestiram, devia pertencer aos marujos. Foxy o pegou do chão e o colocou na cabeça de John, tocando seu nariz com a ponta do dedo e seguindo caminho pelo beco. - Vem comigo, eu vou te mostrar pra onde a gente vai, capitão. - E então saíram para o cais outra vez. Estava uma grande balbúrdia, homens carregando grandes caixas para todo lado, mulheres segurando crianças pela mão enquanto acenavam para as embarcações, meretrizes cortejando os marujos e enormes embarcações atracadas no porto. Foxy apontou uma que estava de partida, duas embarcações pra frente de onde eles estavam. - Vamos naquela belezura bem ali. Vem, ou vamos perder o embarque... - Disse a cigana, apertando o passo, com John a seu encalce.

Quando chegaram na grande tábua que ligava o barco ao porto, foram praticamente empurrados até a embarcação, que não tinha nenhum nome escrito e estava coberta com várias bandeiras enormes, de cores diferentes, não sendo possível ver o nariz do barco. As velas estavam fechadas, mas os remos estavam na água. Foxy puxou John pela mão no meio dos marujos e logo estavam bem no convés, enquanto escutavam os homens gritar ordens uns para os outros. Iam zarpar em poucos minutos. - Diga adeus pra sua vida chata, querido.

Woooow, o navio estava se mexendo e não tinha ninguém no leme! Todo mundo teve a mesma reação de susto ao entender que o barco estava se lançando sozinho no mar. Foxy tinha certeza que não estava chapada (e depois se perguntou porque diabos ela não estava chapada). Aproveitou pra dar um sorriso animado para o menino - Se segura, Johny! - E levou ele atrás de si até a base da escada que levava para o convés superior, onde o leme estava se movendo. As velas e a bandeira já eram conhecidas de Foxy. Ela não tinha escolhido aquela época e aquele porto a toa, mas precisava de privacidade para contar os motivos ao amigo, e no momento parecia que a tripulação inteira estava por perto, vendo o "navio fantasma" navegar para o mar aberto.

Ela então olhou para onde John apontava e sorriu outra vez, fazendo um joinha pra ele. - Bingo! Capitão a vista... - Cochichou Foxy. - Mas porque ele ainda não se apresentou pra tripulação? É estranho... Não parece ser o Barba Negra. - Foxy estava confusa. Ela sabia que o Queen Anne's Revenge tinha partido de Porto Vinhedo para a correnteza do pacífico e então não tinha mais sido visto por muitos e muitos anos, mas nenhuma parte da história dizia que Barba Negra não estava a bordo. - Não é possível, o Barba Negra não está comandando o barco??? - Ela ainda cochichava, ficando irritada com os novos fatos. - Vamos ficar de tocaia, a gente pega o capitão sozinho assim que o convés esvaziar. Vamos arranjar o que fazer por enquanto, Johny... - Disse Foxy, e logo ela localizou um imediato que gritava ordens para os cães do mar. Foxy sorriu de forma cruel para ele, puxando uma faca para a mão e afiando a lâmina no cinto. Coisa de pirata. - Senhor, sou Coral e esse é o Lobo do Mar. Quais são as nossas tarefas? - E depois de tomar um berro na cara, os dois foram mandados para o segundo convés inferior, para organizarem o arsenal. E lá foram eles, agora com o batismo pirata feito. Coral e Lobo do Mar, ahoy!